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Sábado, 4 de Abril de 2009
A «Maçã da Discórdia»

Resultado de uma renhida luta ibérica pela definição de fronteiras nas Américas, conhecida como «a maçã da discórdia», ou «Gibraltar do Prata», como também ficou conhecida, Colónia de Sacramento assenta numa massa rochosa espraiada à boca do Prata, que mais não é do que um estuário que reúne as águas dos rios Paraná e Uruguai e que os uruguaios chamam mar. E ai de quem os contestar.

 

A muito peculiar Sacramento sobreviveu à passagem dos séculos. Ora estava em mãos portuguesas, ora em mãos espanholas. Mudou de dono sete vezes (este número não me larga). Mas houve sempre uma diferença fundamental: enquanto os portugueses logravam assumir a sua possessão através de acordos e tratados, os espanhóis faziam-no graças a lutas sangrentas.

 

 

A primeira ocupação aconteceu logo após a chegada de Manuel Lobo, em 1680, à região norte do estuário da Prata, conhecida como «terra de São Gabriel», activo centro de comércio e, sobretudo, de contrabando. A ilhota com esse nome que se avista a uns cem metros ao largo de Colónia, foi o primeiro local de desembarque e ocupação provisória.

 

Herói da Restauração, Lobo era então governador do Rio de Janeiro e fora encarregado por D. Pedro II de criar um ponto de defesa na costa setentrional. Sentindo-se ameaçado, o governador espanhol de Buenos Aires, José de Garro, fez desembarcar, numa madrugada de Agosto, três mil índios guaranis e 260 soldados comandados por António Vera y Mujica. A desproporcionalidade entre as forças em confronto levou a um massacre e à expulsão dos portugueses recentemente estabelecidos na cidade.

Nessa batalha morreu, entre tantos outros, António Correia de Pinto, o engenheiro militar autor da primeira planta urbana da Colónia.

 

O trágico episódio está retratado numa imagem da época exposta no Museu Municipal. Vemos uma pequena torre de castelo onde se batem soldados portugueses contra soldados espanhóis e índios guaranis, sendo de destacar uma figura feminina, que, de armas em punho, participa na defesa da cidade. Chamava-se Joana Galvão e foi uma espécie de padeira de Aljubarrota, em versão donzela.

 

 

Muitas outras incursões se seguiriam, sem que os espanhóis viessem a tomar efectiva posse da cidade, o que só aconteceria após a assinatura do tratado de Santo Ildefonso. Nele estipulava-se que a Espanha ficava com Colónia em troca dos entrepostos jesuítas – os designados Sete Povos das Missões – construídos na região charneira que delimitava as possessões dos países ibéricos.

 

O processo não foi pacífico. Os jesuítas e os seus protegidos guaranis resistiram com tal afinco que houve necessidade das forças militares dos dois países rivais juntarem esforços para os aniquilar, facto inacreditável tendo em conta a feroz luta que se travava na altura pela posse das novas terras descobertas. O conflito ficou para a história como as Guerras Jesuíticas.

 

Foram dez os governadores portugueses desse período conturbado, entre 1680 e 1777, havendo uma época (1705 -1715) em que Colónia foi considerada terra de ninguém, sendo governada a partir de Buenos Aires.

 

Bem no centro, na praça que ladeia a igreja do Santíssimo Sacramento, podem ainda hoje ser apreciados, com a respectiva explicação, os alicerces da residência do governador português, arrasada pelos espanhóis em 1797, sob o comando de Pedro de Cevallos. Na parede do restaurante em frente, uma placa de azulejos afixada em 1972, assinala os 250 anos da tomada de posse de António Pedro de Vasconcellos, como governador de Colónia de Sacramento, que «com probidade e tenacidade, em larga e profunda administração que durou 27 anos fez dela uma grande cidade e baluarte invicto».

 

Segue-se uma frase atribuída ao português que várias vezes vi inscrita em publicações: «Esta praça de Colónia era de tanta importância que não trocaria por qualquer outra equivalente mais vantajosa».

 

 

Vasconcellos foi o grande responsável pelo desenvolvimento cultural, material e comercial da Nova Colónia de Sacramento, que depressa atingiria uma população equivalente à de Buenos Aires.

 

Seguir-se-ia o período de vice-reinado da Prata, ou seja o domínio espanhol, tendo um desses vice-reis o curioso e muito português nome de Pedro de Melo de Portugal e Vilhena, que esteve à frente dos destinos da cidade de 1794 a 1797.

 

Enfim, são estas as idiossincrasias de uma região que viu passar gente de muitas nacionalidades e que foi ela própria cadinho de mestiçagens únicas, que ainda hoje se reflectem na fisionomia e carácter dos seus habitantes.

publicado por JoaquimMDC às 17:30
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